Você tem medo de ensinar?

Trabalho com projetos SAP, especificamente ABAP, há cerca de 7 anos. Uma prática muito comum é a figura do “sombra”. O sombra é aquele consultor júnior (geramente no seu primeiro projeto), que é alocado a um projeto, sem cobrar as suas horas do cliente.

Com isso, a sua consultoria consegue treinar um novo consultor em situações reais da rotina de um projeto.Isso pode ser ótimo para o sombra, pois esse treinamento on-the-job é uma maneira de dar a ele alguma experiência sem a responsabilidade de um consultor cobrado do cliente.

No entanto, para o consultor experiênte, isso representa um aumento de trabalho, pois além do trabalho normal como consultor, ele precisa explicar tudo ao sombra.

Eu nunca tive um sombra para ajudar, mas já coordenei uma equipe de umas 10 pessoas totalmente inexperiêntes, onde tive de ensinar muitos macetes para que as coisas andassem no prazo determinado.

Nessa semana, conversando com um consultor que trabalha comigo, ele revelou-me que já criou a maior confusão em um projeto por negar-se a ensiar um outro consultor menos experiênte. De acordo com ele, não havia sido contratado para ensinar. O seu outro argumento foi que ele não queria que o mercado SAP crescesse muito e que ele tinha medo que o seu salário diminuisse devido ao aumento do número de consultores.

Vi comentário semelhante a esse no dieblinkenlights.com. De acordo com o autor, falando sobre a linguagem de programação Phyton, disse:

Eu a considero uma vantagem competitiva e se você, meu leitor, não souber do que se trata, melhor para mim.

Nesse projeto onde eu fui o coordenador, tive a satisfação de acompanhar o desenvolvimento profissional de alguns deles. Hoje, ainda converso com eles pelo MSN e fico orgulhoso quando leio “fulano @ USA” no nickname, indicando que está em algum projeto internacional.

Por que esse medo de ensinar? Então quer dizer que se eu ensinar outras pessoas, corro risco de “saturar” o mercado de profissionais e diminuir a minha “empregabilidade”?

Esse medo expressa uma mentalidade limitada. Aprendi que o meu sucesso não depende de uma ferramenta, linguagem ou plataforma. Essas vão e vêm a todo momento. O que relamente conta é qual é o seu comportamento profissional, ou seja, vontade de aprender coisas novas e procurar novos conhecimentos para se manter sempre a frente.

Eu realmente adoro ensinar e sou totalmente seguro da minha empregabilidade, pois ela não depende 100% da ferramenta ou linguagem de programação que uso. Tanto que hoje, além do meu trabalho como coordenador de desenvolvimento, sou intrutor ABAP. A vontade de ensinar, abriu-me novas portas além da consultoria.

Cuidado se você pensa como meu amigo, provavelmente logo será ultrapassado por esse consultor júnior que está do seu lado, afinal de contas, para o meu amigo, a sua única preocupação é:

… se meus concorrentes lerem e aprendam alguma coisa.

(Texto originalmente publicado no Papel no Vaso.)

5 Resultados

  1. gabriela disse:

    Texto excepcionalmente inteligente.

    Meus parabens, fico feliz de saber que ainda existem pessoas como você no mercado de trabalho!

    Site muito bem feito, com minunciosos detalhes!

    Parabéns!!

  2. Cláudio disse:

    É pena que poucas pessoas tenham esta mentalidade!

  3. Rogério Rodrigues disse:

    Gostei muito do artigo. O site está muito bom e muito útil pra nós, que estamos iniciando.

    Parabéns

  4. Franco disse:

    Parabéns pelo artigo. Obrigado por compartilhar suas experiências.

  5. Douglas disse:

    Parabéns pelo blog. Posts de ótima qualidade.